Planejamento e execução também devem ser feitos pelo companheiro ou pela família.
Você já ouviu falar em carga mental, nome dado ao trabalho invisível que geralmente recai sobre a mulher, que tem de planejar, organizar e tomar decisões constantes sobre a vida doméstica e familiar, enquanto o companheiro executa apenas o que é solicitado?
Se não houver colaboração do parceiro quando a mulher se torna mãe, esse trabalho não reconhecido se intensifica, o que pode gerar estresse e outros problemas. É por isso que é importante que o companheiro e a família se conscientizem para dividir não só os afazeres, mas também todos os passos envolvidos antes da realização deles.
O psicanalista Fabiano de Abreu detalha que a carga mental implica em planejamento, coordenação e acompanhamento, e não só na mera execução das tarefas. “Muitas vezes as mulheres tendem a acumular essas atividades sem se darem conta que são multitarefas, e isso acarreta sobrecarga mental, gerando desgaste emocional e físico”, diz.
“Esse acúmulo de funções tende a ser normalizado, e muitas vezes nem é percebido quando executado. Mas, na falta de realização destes, tudo fica visível, sendo rapidamente cobrado pelos coabitantes do lar”, detalha. É preciso, portanto, que o companheiro se conscientize para pegar a sua parte nessa carga.
O psicólogo Yuri Busin, diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental – Equilíbrio (CASME), explica que, mais do que nunca, é importante que o pai e a mãe estejam em sintonia para que esse trabalho não recaia somente sobre a mulher. “Se for possível, é preciso conversar e planejar a gravidez em conjunto, o pai se colocar como ser participativo, onde um completa o outro – e não um ‘tapa buraco’ do outro”, aconselha.
Pai: metade da carga é sua
É importante que o pai compreenda que as responsabilidades de um filho também são suas, e que é preciso se planejar para que as necessidades do bebê sejam atendidas, além de todas as outras decisões que mantêm a casa em funcionamento.
Para isso, Busin dá a dica: “seja proativo. Faça uma planilha, anote e verifique o que está faltando ou o que pode faltar. O pai precisa criar uma metodologia e se encaixar naquela rotina”, diz. “Não fique perguntando o tempo todo para a mãe – você precisa saber o que é necessário. Por que esperar?”, aconselha.
Já para a família, é ótimo que eles também colaborem para minimizar essa carga, caso estejam por perto. No entanto, Busin explica que é preciso que isso aconteça sem que a privacidade do casal seja invadida.
Mãe: reflita sobre esse peso
Alfredo Toscano, psiquiatra e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, explica que em alguns casos há o outro lado da moeda, em que a mãe pode se tornar centralizadora. É importante, portanto, que ela reflita também sobre o peso dessa carga mental.
“Vivemos em uma sociedade que tenta planejar as coisas além da necessidade. É verdade que precisamos na vida de planejamento – até mesmo para diminuir riscos, mas há mulheres que, por uma questão de insegurança, têm esse lado exacerbado. E elas se cobram mais, e há casos em que algumas não abrem mão desse planejamento”, explica. Para ele, é importante uma reflexão para a mulher poder compreender o peso disso e não ter resistência em dividir a carga mental, a partir do momento em que ela é percebida.
Dividir tarefas é compartilhar amor
É por isso que, quando a mulher se torna mãe, o diálogo se faz mais necessário do que nunca. É preciso expor as necessidades daquele momento por meio de uma conversa franca e deixar claro que cada um deve fazer a sua parte – e que o planejamento, organização e tomada de decisões devem ser feitas pelos dois.