Fonte: Minha Vida
O tratamento medicamentoso reduz não só os sintomas, mas pode melhorar o desenvolvimento dos bebês, segundo estudo.
Um novo estudo descobriu que um tipo de antidepressivo pode trazer benefícios prolongados e significativos para mulheres com depressão pós-parto. O achado também sugere que o tratamento medicamentoso pode ser benéfico para o bebê, aumentando o bem-estar físico e mental dos filhos.
O trabalho foi publicado no JAMA Network Open no dia 29 de agosto e contou com 61.081 duplas de mães e filhos. Os resultados mostraram que mulheres com depressão pós-parto e que tomaram medicamentos à base de fluoxetina ou sertralina tiveram maior satisfação no relacionamento com seus bebês e menos risco de depressão por até cinco anos depois do tratamento.
Sertralina e fluoxetina são medicamentos da classe inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS). Eles atuam aumentando os níveis de serotonina, conhecida como “hormônio da felicidade”, no cérebro. Isso faz com que os sintomas da depressão, como irritabilidade, raiva, cansaço, ansiedade e tristeza, sejam reduzidos.
Como o estudo foi feito?
Os pesquisadores analisaram os dados do Estudo de Coorte Norueguês de Mães, Pais e Filhos (MoBa), que recrutou mulheres que realizaram exame ultrassonográfico de rotina durante a 17ª e 18ª semana de gravidez, entre 1999 e 2008. As mulheres foram convidadas várias vezes quando tiveram mais de uma gravidez.
As famílias participantes receberam questionários sobre o desenvolvimento infantil e as condições de saúde materna. O estudo recente incluiu dados sobre os sintomas de depressão na 30ª semana de gestação e no 6º mês pós-parto, além de dados sobre o uso de medicamentos antidepressivos.
Os pesquisadores descobriram que a depressão pós-parto mais grave estava associada a vários problemas de saúde para a mãe, como episódios de depressão e menor satisfação no relacionamento com a criança. As consequências também foram sentidas pelos filhos, caracterizadas por problemas no desenvolvimento motor e de linguagem e sintomas de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
O uso de antidepressivos da classe ISRS pareceu reduzir o risco de depressão pós-parto por até cinco anos. O medicamento também foi associado a um menor risco de atrasos no desenvolvimento e sintomas de TDAH em crianças. Na visão dos pesquisadores, isso acontece porque as mães que recebem tratamento eficaz para a depressão pós-parto conseguem criar um melhor vínculo com o filho, essencial para seu desenvolvimento.
O que mais pode ajudar a combater a depressão pós-parto?
Atualmente, o tratamento para depressão pós-parto é feito através do uso de medicamentos antidepressivos e da psicoterapia. No entanto, outros hábitos podem ajudar a prevenir e a reduzir os sintomas da condição, complementarmente. É o caso de atividades físicas durante a gestação e no puerpério.
“O período pós-nascimento do bebê pode ser muito desafiador para muitas mulheres, que, frequentemente, relatam o sentimento de solidão. A mudança brusca na rotina, a falta de rede de apoio e questões hormonais podem levar muitas mulheres ao quadro de depressão pós-parto”, explica Juliana Schablatura Vera, ginecologista e obstetra da Clínica Parto com Amor.
“A atividade física pode ajudar muito no tratamento da depressão pós-parto, já que a paciente reserva um momento para cuidar de si, saindo um pouco do papel de mãe. Além disso, a liberação de endorfinas, a disposição e a volta do corpo próximo ao que era antes da gestação contribuem para a sensação de bem-estar”, completa a especialista.
O exercício físico também pode ser feito desde o período pré-natal, durante a gestação. “O exercício físico durante a gravidez é muito importante e traz uma série de benefícios para mãe e bebê, ao reduzir o risco de diabete gestacional, aumenta a chance de parto normal, ajuda a diminuir as dores do parto e reduz a porcentagem de gordura corporal”, elenca Priscila Salvador, enfermeira obstetra e doula da Clínica Parto com Amor.
O esquema terapêutico do medicamento, vendido sob a marca comercial Zurzuvae e de responsabilidade dos laboratórios Sage Therapeutics e Biogen, envolve a administração diária de um comprimido, durante duas semanas. Ensaios clínicos mostraram que o produto ajudou a reduzir significativamente os sintomas da depressão pós-parto após três dias de uso.
Esse efeito benéfico foi mantido por quatro semanas após a última dose, conforme a FDA. Os efeitos colaterais podem incluir sonolência, tontura, diarreia, fadiga e maior risco de resfriado ou infecção do trato urinário. Ainda não há previsão de quando o produto estará disponível no Brasil.