As gestações molares, mesmo as embrionadas, não evoluem para o crescimento de um feto.
A concepção é produto do encontro entre um espermatozoide e o óvulo, gerando o chamado ovo. Como resultado da multiplicação das células do ovo, em condições normais, sobrevém o embrião que se transforma em feto.
Por distorções genéticas, invés dessa multiplicação celular resultar num embrião, surge uma estrutura de crescimento alterado. Em sua trajetória de desenvolvimento, poderá apresentar áreas de tecido com início de diferenciação embrionária: são as chamadas molas parciais ou molas embrionadas.
Entretanto, as gestações molares, mesmo as embrionadas, não evoluem para o crescimento de um feto. Não existe mola que evolua satisfatoriamente até a formação de uma nova criatura.
A forma mais comum é de natureza benigna, ocorre em cerca de 1 a cada 1.500 partos nos EUA, sendo sua incidência bem mais elevada em países asiáticos, na casa dos 1 para cada 125 partos. É mais frequente em mulheres abaixo dos 20 e acima dos 40 anos, com baixa condição social e nutricional.
Diagnóstico
Na fase inicial, a paciente portadora de mola hidatiforme revela um quadro típico de gestação normal.
Ainda no primeiro trimestre, quando apareça sangramento uterino anormal recorrente, a avaliação médica observe uma desproporção no crescimento uterino e os exames de sangue revelem taxas elevadas de hCG, suspeita-se de uma gestação molar. As pacientes podem apresentar maior frequência de náuseas e vômitos também nessa fase.
O método que com segurança define essa suspeita é a ultrassonografia pélvica. Esta técnica de imagem revela as múltiplas áreas císticas que correspondem àquelas formações com aspecto de cacho de uva e também ausência de saco gestacional. Não incomumente, nota-se a presença de numerosos e volumosos cistos ovarianos.
A ultrassonografia é importantíssima no diagnóstico diferencial entre a doença trofoblástica gestacional (mola e suas variantes), gestação interrompida (abortamento espontâneo) ou gravidez tubária (ectópica ou extrauterina).
Todas as pacientes portadoras de tumores trofoblásticos revelam níveis muito elevados de hCG (gonadotrofina coriônica humana). O controle e seguimento da dosagem deste hormônio no sangue é fundamental tanto para o diagnóstico como para o monitoramento e vigilância da progressão ou regressão da doença.
Tratamento
O tratamento consiste no chamado esvaziamento da mola através de curetagem, de preferência por sucção/aspiração e sob anestesia e infusão de ocitocina venosa, para auxiliar a contratilidade uterina durante e após o esvaziamento.
Nas grandes molas, podem ocorrer hemorragias importantes ou mesmo perfuração uterina durante o ato cirúrgico.
Estrutura hospitalar, banco de sangue e equipe médica adequada devem estar disponíveis até para uma eventual histerectomia.
Ainda que ocorra um abortamento espontâneo e mesmo nos casos de solução cirúrgica, é indispensável o estudo anátomo-patológico do material recolhido para o diagnóstico definitivo da doença.
Deverá ocorrer declínio progressivo de hCG até sua negativação no sangue, nas primeiras semanas após o esvaziamento.
Possíveis complicações
Na presença de hCG após 12 semanas do esvaziamento, devemos considerar a possibilidade de persistência de tecido molar na cavidade uterina, transformação em uma doença trofoblástica maligna chamada coriocarcinoma ou até mesmo ocorrência de uma nova gravidez.
Aliás, até por isso é indispensável que a paciente, que teve o quadro de mola hidatiforme, seja controlada através de dosagens semanais de hCG (até a sua negativação) e use substâncias contraceptivas por pelo menos 6 meses.
Diante da transformação em doença trofoblástica gestacional maligna, é indicado o tratamento com quimioterápico específico (Metotrexato) isolado ou complementado com a histerectomia. O controle dos níveis de hCG no sangue deverá ser feito para o resto da vida.
O prognóstico da mola hidatiforme tratada adequadamente é de absoluto sucesso em mais de 90%.
Quando diante da doença trofoblástica gestacional maligna (coriocarcinoma), fazer o seguimento rigoroso por pelo menos um ano, atentando para a possibilidade de condições desfavoráveis e agravantes tais como o coriocarcinoma metastático, condição que propaga células malignas para órgãos como fígado, pulmões e cérebro.
O prognóstico para doença maligna sem metástase, sob terapêutica adequada, leva à cura em quase todas as pacientes, as quais respondem sempre positivamente com um único agente quimioterápico.
Sem dúvida, as mulheres que apresentam metástase(s) tem prognóstico muito mais restrito, com menor sobrevida.
Novas gestações
Após esvaziamento de uma gravidez molar com negativação da presença de hCG sanguíneo, a mulher está autorizada a engravidar novamente após 6 meses.
Pacientes que tiveram a doença trofoblástica maligna tratadas com quimioterapia, aguardar um ano , com titulações periódicas de hCG , para se expor a uma nova gestação, uma vez que há risco 1% de recorrência de doença trofoblástica gestacional após uma e de 15% após duas gestações molares.
Gestações e trabalho de parto não sofrem nenhum risco, respeitados os prazos de segurança após tratamento das doenças trofoblásticas. Entretanto, devemos estar sempre alerta na avaliação dos níveis de hCG e ultrassonografia pélvica.
Fonte: Minha Vida